quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

natal

eu não sabia cuidar de planta
morria de medo de ter vasos
mas eu ganhei manjericão
e gosto tanto
que ele vingou
então agora já tenho três
majericão meu coração
boldo amargo bom
e pinheiro de natal dim dom!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

não é fácil perder

eu sinto uma saudade do que ainda não perdi
eu sofro em perder mesmo sem perder
porque eu vou
eu tento não pensar
já fiz terapia
já tomei calmante
fiz oração
chá de camomila
suco de maracujá
yoga
meditação
mas eu estou sempre
sentindo saudade do que vou perder
porque até a terapeuta, o comprimido, a camomila, o maracujá, a yoga e a meditação eu também perdi.

sábado, 23 de outubro de 2010

supersábado


Preciso ir ao supermercado... compras...
Como é difícil para mim, o meu estômago embrulha de pensar nas pessoas apavoradas e apressadas com seus carrinhos trombando pisando reclamando. Odeio ter que pedir licença para pegar o papel higiênico, fico ali tão exposta pensando se vale à pena ser perfumado.
O cheiro de carne que vem do açougue me enjoa, as pessoas na fila do açougue se zangam com uma senhora que demora para escolher o seu filé, que droga a carne a senhora e a fila.
Uma criança faz birra e eu quero sumir, o pão de forma me observa, já amarelado de tanta mão que o tocou para ver o seu vencimento, e eu me sinto mais vencida que ele.
As frutas... que tristes estão as frutas, as folhas murcharam de dividir o oxigênio com tanta gente.
A moça do caixa está com cólica menstrual, percebo em suas olheiras, um marido está irritado,uma mulher escolhe um desodorante, uma criança fura um iogurte, a mocinha oferece café, experimente e compre este, é muito bom!
A música, poucos escutam, tem som no ambiente, mas o barulho de pessoas cansadas desfilando pelos corredores, os carrinhos de rodas quebradas dificultando a curva, celulares tocando, um namorado briga com a namorada no corredor do chocolate, tudo isso impede a música. Eu não gosto de fazer compras sábado!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

para Aline Zeller ou " Li que muda de humor"


você não perdeu nada
ganhou
mesmo que tudo pareça diferente
de frente pro espelho
você ganhou
mesmo que sejam rugas e cansaço
você ganhou
e não foram só rugas e cansaço!

domingo, 26 de setembro de 2010

domingo de chuva bom
cama silêncio
silêncio dentro
porque fora tem barulho de trovão
trovão bom
que me faz abraçar aos lençóis
e o macio contato de minha pele
a eles é toda uma eternidade boa
uma paz
de saber que cai chuva fora
e estou protegida
de lençóis
não abro os olhos
tento dormir mais um pouco
afinal é domingo
e o café com bolo de milho pode esperar um pouco mais
domingo bom de descansar

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Eu não jogo fora, eu só preciso me livrar daquilo desesperadamente, não é caridade, nem desprezo, não é dar aos pobres ou dar fim. Simplesmente preciso me livrar do que me angustia. Por exemplo: um sabonete bem no final me entristece, ele está velho, se acabando e eu não posso usá-lo e tampouco jogá-lo, mas não o quero mais assim. Jogo então na privada e dou descarga para que ninguém veja o crime, coração acelerado, fiz algo errado?
Eu não tenho cuidados com poemas, eu os rasgo, das fotos tiro pessoas que não quero ver, tiro das gavetas o que não me serve ou não me alegra, tiro do porta-malas aquele livro esquecido e o esqueço de propósito em um banco de praça bem sujo. Eu apago palavras que foram escritas a mim, aqueles que me amaram, me escreveram, mas não me amam mais, as palavras perdem o sentido e eu não preciso delas ou tenho medo de que se aprofundem e me deixem... não sei dizer. Eu tiro do armário um sapato que ganhei de uma amiga que partiu, não quero dela os passos, ela já foi embora e não vai voltar, pelo menos para minha vida. Eu jogo fora flores que recebo, um pouco antes de murcharem, pois é muito...muito triste vê-las morrer. Como dói ver morrer o sabonete, as flores, as dedicatórias dos livros, ver partir sapatos e as palavras do poema se perderem por ai. Você, meu leitor amigo, pode não concordar comigo e encher seu armário de velharias e sentimentalidades. Problema seu, não pedi sua triste opinião. Antes que alguém me abandone, eu abandono o sabonete, e me rio de sua veloz partida, abandono o livro, deixo correr os sapatos, as flores vão para a lixeira, lá apodrecerão mais felizes, e cada palavra dita a mim fica plena de fim!

domingo, 1 de agosto de 2010


olho e não vejo o meu olho esquerdo
vejo o direito
no espelho torto
do meu quarto
vazio demais é ter tanto
eu tenho muito
e de muito fica vazio
não dá para entender
é oco

sexta-feira, 16 de julho de 2010


em minas tem pedra

ouro prata coisas que brilham

e mundica

tem histórias do início do Brasil

tem estrada real

tem muitas minas

as minas que tem mundica

em minas

tem serra sol lua grande estrelas perto

perto de tão alta aquela diamantina

diamante tem mundica

cristal de cachoeiras frias

pedras no chão das ruas

que de inclinadas

fazem escorrer nossas vidas

tem muito minério aquelas minas

tem mundica na lembrança de diamantina

diamantina da chica

do juscelino

da maria

do tão lopes

do pão de queijo

do biscoito peta

do doce de leite

da mundica

por isso ela se acha

a mineira perfeita

em são paulo falando bonito

se acha o brilho da diamantina

e é o brilho de suas meninas...

segunda-feira, 7 de junho de 2010


você beijou minha nuca
a sua boca quente
você beijou meus olhos
fiquei cega
beijou minha boca
fez rolar uma maçã até meu umbigo
minha pele
e sua pele
boca tão quente
em minhas pernas

sexta-feira, 21 de maio de 2010

versos vazios

sinto falta de um anjo
que me inspire poema
estou tão vazia de versos

sinto falta da fruta que me inspire o pecado
as maçãs no mercado
estão murchas

nada me aquece
e este frio de maio

quinta-feira, 29 de abril de 2010

café


a minha vida é doce um pouco
meio café com açucar e um amargo na língua fica
porque não é tão doce assim
eu me machuco com pensamentos duros
e quando vou chorar percebo
que mais gente se machuca com meus duros pensamentos

me revolto com as escolhas
mas eu as fiz assim

não posso brigar comigo
porque eu pedi assim
um café
quente
com pouco açucar

mas se no pedido do café rola um chocolate
é só mais um toque doce que eu preciso

mas até no chocolate prefiro o amargo
então
se está amargo
a culpa é minha

e bebo o café
que já esfriou
porque eu pensei demais antes de engolir minha amarga e doce vida.

quarta-feira, 31 de março de 2010

...

eu já fiz 36 anos
que estranho
eu sou mulher
a menina partiu
e eu nem me dei conta disso
vou continuar pequena
frágil
insegura

que besteira

eu sou forte
eu grito
eu choro esscondido