domingo, 26 de setembro de 2010

domingo de chuva bom
cama silêncio
silêncio dentro
porque fora tem barulho de trovão
trovão bom
que me faz abraçar aos lençóis
e o macio contato de minha pele
a eles é toda uma eternidade boa
uma paz
de saber que cai chuva fora
e estou protegida
de lençóis
não abro os olhos
tento dormir mais um pouco
afinal é domingo
e o café com bolo de milho pode esperar um pouco mais
domingo bom de descansar

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Eu não jogo fora, eu só preciso me livrar daquilo desesperadamente, não é caridade, nem desprezo, não é dar aos pobres ou dar fim. Simplesmente preciso me livrar do que me angustia. Por exemplo: um sabonete bem no final me entristece, ele está velho, se acabando e eu não posso usá-lo e tampouco jogá-lo, mas não o quero mais assim. Jogo então na privada e dou descarga para que ninguém veja o crime, coração acelerado, fiz algo errado?
Eu não tenho cuidados com poemas, eu os rasgo, das fotos tiro pessoas que não quero ver, tiro das gavetas o que não me serve ou não me alegra, tiro do porta-malas aquele livro esquecido e o esqueço de propósito em um banco de praça bem sujo. Eu apago palavras que foram escritas a mim, aqueles que me amaram, me escreveram, mas não me amam mais, as palavras perdem o sentido e eu não preciso delas ou tenho medo de que se aprofundem e me deixem... não sei dizer. Eu tiro do armário um sapato que ganhei de uma amiga que partiu, não quero dela os passos, ela já foi embora e não vai voltar, pelo menos para minha vida. Eu jogo fora flores que recebo, um pouco antes de murcharem, pois é muito...muito triste vê-las morrer. Como dói ver morrer o sabonete, as flores, as dedicatórias dos livros, ver partir sapatos e as palavras do poema se perderem por ai. Você, meu leitor amigo, pode não concordar comigo e encher seu armário de velharias e sentimentalidades. Problema seu, não pedi sua triste opinião. Antes que alguém me abandone, eu abandono o sabonete, e me rio de sua veloz partida, abandono o livro, deixo correr os sapatos, as flores vão para a lixeira, lá apodrecerão mais felizes, e cada palavra dita a mim fica plena de fim!