quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

E o Carnaval não me levou...


O Carnaval já passou, mas não me levou, eu estava tão longe de todo o batuque e colorido, mas não me senti infeliz por isso. O batuque esconde o barulho dos assaltos, do tráfico, das crianças que choram de fome de tudo. O colorido disfarça a chuva que leva a casa e a geladeira, deixando famílias sem nada. O Carnaval não me leva mais, não sei esquecer, não sei mais fingir. Não se trata de ser amarga, pelo contrário, sou feliz, mas não quero mais nehuma forma de exagero que me faça fugir. Não preciso de vendas, eu quero ver o velho que pede esmolas numa cadeira de rodas, não era para estar alí, fosse este uma país mais justo. Não preciso viajar de avião, eu quero passar de ônibus pelas favelas, porque alí está o real. Eu não uso mais a desculpa de que o animal foi feito pra comer, porque sei que ele também tem medo da morte. O Carnaval passou, mas não me levou, fiquei olhando minha vida real, minhas pessoas, fiquei olhando pra minha mãe, tão boa mãe, tão bom ser humano, fiquei olhando Carlito cozinhar, tão calmo cortando cada legume, interessado em nossa história. Olhei cada um lá de casa, entrei na água com a Sofia, caminhei com meu amor, cuidei dos meus animais, arrumei meus livros na estante. Esse foi o carnaval que passou e não me levou, não fui atrás da folia, fui atrás de mim!