sexta-feira, 31 de outubro de 2008

viver


acabei de chegar de viagem, desta vez o caminho pareceu mais curto, coisas pra pensar, desliguei a música. em alguns, raros dias não preciso dela. queria silêncio pra pensar. minha vida. o que faço da minha vida todos os dias. está passando. não estou fazendo muito. ando escrevendo, isso é bom, mas é um pouco estranho, entro em um mundo falso, quando escrevo. mas deve ser assim. se é um mundo falso, deveria terminar sempre mais feliz, mas acabo tremendo. às vezes adoro essa tristeza, mas quando me assustam, ou me criticam, ou me agridem passo a achar tudo tão sem graça. podia escrever mais colorido. estou cansando quem me lê. mas foda-se, porque eu ainda não achei o giz de cera colorido! quando chego de viagem, desfaço a mala correndo. odeio vê-la por perto, me faz pensar que irei de novo e de novo e de novo e isso me faz ter sono. viciei em água com gás...deve ser porque ela me emociona, ela é forte, pena que logo perde o gás e não é mais forte. aí não tomo mais. ela se parece comigo: abra minha garrafa e me beba, enquanto ainda estou forte...depois saia correndo, porque fico desapaixonante. Que horrível, agora todos sabem que sou uma água com gás. O garçom pergunta: com limão e gelo? Não!!!!!!!!pura. Se me quiserem por perto, terão de forma pura. Direi palavras duras, mas serão as palavras. Não saberei mentir, enquanto tiver gás em minha água. almocei. sozinha. é ruim comer sozinha. mas o andré deixou um recado bonito em cima da mesa e um sorvete no congelador. sorvete de brigadeiro. mais gostoso do que água com gás. ele tem razão. meu dia está passando. mais um dia. mas já estou em casa. logo minha sofia entrará por aquela porta. entrará violentamente pedindo sua mãe. Eu sou mãe! preciso me dizer isso todo dia! difícil acreditar que sou uma mãe. aquele ser sublime que aparece em propaganda de eltrodoméstico... não sou ser sublime, sou só mãe e fodam-se os liquidificadores. sou mãe que erra, mas que também acerta. melhor assim, poderei pedir desculpas numa boa e sem culpas... me perdoe, Sofia. ainda é pequena. me exige atenção, logo me exigirá mais... e depois vai deixando de exigir...vai encontrando seu caminho. eu ainda não encontrei meu caminho. me perco. também não quero encontrar, porque a certeza nos deixa tão idiotas. escuto passos...sofia e papai chegando...preciso olhá-los... eles me pedem e eu devo estar de braços abertos. estarei sempre. eu cresci. eu sou mãe. ele é o andré. essa é minha casa. preciso tocar minha realidade, para que ela não desapareça. isso é viver.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

tremendo


Frio, eu sentia muito frio e tremia. Mas o calor era insuportável nas ruas, e eu tremia. Uma espécie de febre, só que não era. Era um pouco medo e vazio, medo do que sentia, e no que isso poderia se transformar, e vazio, porque te perdia insistentemente todos os minutos dos meus dias. Perdia, perdia, e embora nunca tenha realmente sido meu, eu te perdia, meio bonde meio táxi, meio círculo. Por que os teus olhos e os meus olhos se comunicavam? Por que não ficavam calados? Não, eles sempre se entendiam de um entendimento absurdo, que deixava a todos boiando, boiando até o naufrágio completo. Nós não naufragávamos, nós conseguíamos depois de dores, discussões e rompimentos e rompimentos e rompimentos, abraçar ao outro, pedir ajuda, pedir que voltasse, pedir a mão. E dávamos as mãos e entrávamos na chuva sem proteção. Mas não adiantava a coragem do encontro, porque havia o vazio da falta de coragem. Coragem de gritar: Eu amo. Estão vendo? Olhos vermelhos, não posso gritar! Você não viu lágrimas, mas ouviu a minha voz cheia de lágrimas do outro lado. E eu ouvi a sua. Estamos sofrendo? Não podemos ser fortes? Não, não podemos, não somos. Queria saber se eu estava bem? Então você também temia. Não quero que sofra. Eu preciso sair da sua vida, pra que seja feliz, só não tenho coragem, preciso de muita coragem e ainda dói. Me perdoe, não estou forte ainda, tenho um frio! Frio dentro! Estou tremendo de frio em pleno dia de sol quente! Olhe como minhas mãos tremem.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

minhas

Um pouco de Macabéia, pra ser simples e beijar parede
Um pouco Capitu, pra não ser tão óbvia
Um pouco Marcela e ser falsa e ser esperta
Um pouco Iracema pra encher a cara com a bebida de tupã
Um pouco Sinhá Vitória e dormiria numa cama, cama, cama

Eu poderia correr o sertão com Diadorim
E assaltar as casas com Dora
E falar palavrão com Tieta
E almoçar com vovó Izidra

Mas eu não tenho nenhuma delas
Elas não me escutam
Elas não me vêem

eu quero




Ícaro voa alto
porque tem asas
não percebe o sol
e se queima

Eu quero também morrer ao sol
no céu azul
de nuvens brancas

por que não me deram asas?

labirinto


Eu não estou perdida em um labirinto
e muito menos perto de um minotauro
não preciso de ajuda
e nem que me digam o que é certo
eu nunca fui um exemplo a seguir
tampouco tento machucar
só quero paz
não quero saber de viver sonhos
só quero paz
feche os olhos, antes de me olhar

estou fechando a porta
estou do lado de fora, como é bom estar do lado de fora
aquilo sim foi prisão
eu estava presa
e nem sabia

sábado, 18 de outubro de 2008

Chega de dor, encheu o saco, porra!

Às vezes vivemos sonhos estranhos, que depois de um bom banho e muitas lágrimas eles vão embora. De maneira doce ou atroz eles vão. O amor tem suas dores, e as dores tem seus amores. Confundimos tudo, e nos apaixonamos pela tristeza. Não podemos ser felizes em tudo, mas isso não significa que somos seres tristes, nem todas as músicas devem fazer sentido. Eu não quero ser ridícula e muito menos um ser triste. Chorar faz bem, me equilibra, me tira do estado desesperado e me coloca no estágio foda-se. Incrível essa nossa capacidade de libertar-se. Eu me libertei de devaneios tolos e fugas imaginárias, não sou esquizofrênica, e minha realidade é tudo, menos essa poesia que escrevo. Escrevo para aliviar um pouco a alma... de dor? não! aliviar de palavras que me vêm. Isso não é triste, é meu único dom. Quero transformar em palavras esses sentimentos paranóicos que tenho às vezes, me faz bem ser essa coisa que muda, que transforma... Um dia me amaram, outro dia me disseram que não...eu chorei, mas não morri. Não existe outra vida, só essa, então não existe amor de almas, existem corpos e tesão, isso sim existe. O resto é besteira de seres românticos que querem viver constantemente apaixonados. Deve ser difícil se apaixonar por mim, eu falo alto, eu grito, eu brigo, eu intensifico, pinto as unhas de azul, falo besteira, palavrão, brigo com Deus faço as pazes, bebo, discuto com baleias imensas... Um dia pensei que queria ser uma princesa, mas acho que seria um porre! por isso matei a Branca de Neve e matarei outras tantas que tentarem se aproximar de mim. Eu odeio "felizes para sempre".

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

e não me interpretem...


Está tão difícil ser feliz hoje, eu me iludi, acreditei na beleza da minha vida, mas não tinha beleza. Era só eu que vivia um sonho, e não posso acreditar em sonhos. Vinícius de Moraes escreveu: "algumas palavras duras em voz mansa te golpearam/nunca cicatrizam" eu as ouvi e vivo em ferida aberta. Eu não posso ser frágil.
Não me peça uma bailarina que lhe dou um monstro. Não me peça uma Branca de Neve que lhe dou maçã envenenada. Não me peça pureza de anjo, que lhe dou minha carne, meu pecado. Não me peça para ser menina, pois sou mulher, e mulher nesta intensa realidade. Que grande droga a realidade.
Minha cabeça dói, porque estou chorando, e não é choro calmo, é choro chorado, de alma. Nunca mais me perguntem o sentido da minha tristeza, porque nunca ninguém vai tirá-la de mim. Não quero que acreditem na minha poesia, ela é a mentira que vivo, e a mentira pode te ferir.
Não me escute, não me olhe, não me queira, não me coma, não me respire, não me venha falar da moral, eu não acredito nessa frieza. Nunca serei o que acredita que sou. Eu não sou, é mentira.
Não me escute, quando te beijo com minhas palavras, eu beiro o perigo. Eu não sou uma alma pura, não encontrei minhas boas intenções.
Minhas palavras não existem na realidade. Que grande droga essa realidade.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Primeira Carícia


No piano a música desliza pelas mãos de um menino
escorre o som pelo meu corpo e minha mente sente
as primeiras carícias
são carícias em minha alma
ao corpo proíbidas
o medo do afeto se dissipa
enquanto a música arde
fecho os olhos e sinto
os dedos que se enlaçam de leve
e o abraço é lento
desesperado lancinante
medo de acabar
e as bocas tímidas
finalmente, em doce carícia se tocam
e a música termina
mas o amor não, e então
a música recomeça, não em piano, mas em violino
como é doce amar
como é doce amar!
(inspirada na música Primeira Carícia de Cost. de Crescenzo - tocada pelo meu sobrinho Rafa, ao piano, enquanto eu escrevia.)

poema pílula II

a melancolia é minha amiga,
que bom,
não tenho saco pra excesso de felicidade!
(escrevi pra Isa no blog dela, e deu vontade de postar aqui)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Faz tempo, meu pai



O corredor não escuta mais teus passos
Tua escova de dentes se quebrou
No teu uísque já não existe um gole
Tua carteira está vazia
No jardim tudo cresce sem teu cuidado
Os morangos as acerolas nada mais nasce
Só o maracujá, depois que você se foi
Enlouqueceu e se espalhou
Para ver se acalmava a saudade
A garrafa de café secou
O cinzeiro se perdeu
O paletó um neto levou
O cachorro adoeceu
O carro já passou
A foto amarelou
O barbeador oxidou
A caneca de cerveja virou gelo no congelador
As crianças cresceram
Nós casamos
A mamãe chorou e chorou e depois sorriu
Quando a rosa amarela brotou
O teu relógio, no cofre, ainda trabalha
Acho que só ele não percebeu
Que você já morreu!

EL CIELO publicação no jornal da Unesp de Assis - área de español (El Camino - 1995)

Cuando te vayas
el sol también se irá
y la oscuridad ensombrecerá mi vida
Cuando te vayas
seré una luna
sin estrellas que se quedan a mi lado
Cuando te vayas
la noche no se acabará nunca más
el invierno vendrá silencioso
y mis sueños serán solamente sueños.

poeminha para minha mãe...


Absurda essa sua capacidade de ensinar,
com você aprendi a me alimentar,
aprendi o engatinhar, o andar, o cair e o levantar.
Aprendi que os joelhos ralam todos os dias,
mas que logo cicatrizam,
aprendi que sofremos de amor,
mas que depois tantas lágrimas se transformam em gargalhadas.
Aprendi que quando se casa, não somos mais um,
e que é preciso paciência a cada diferença.
Aprendi que os filhos pesam na barriga,
que eles vomitam, dão trabalho, engolem pedra,
mas que não precisamos gritar,
porque tudo é mais simples do que pensamos.
Aprendi que é peciso parar e respirar,
e que as aflições passam com uma oração,
e que eu não preciso brigar,
eles vão me entender, eles vão me escutar.
E acabei descobrindo sozinha, que nenhum livro, nenhuma faculdade, nenhum filósofo me ensinou tanto como você:
de maneira simples,
de maneira calma,
de maneira mãe!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Historinha de uma maçã



Era uma vez uma branca de neve,
princesa não era, nem de leve,
não era uma vez, não era sua vez.

Nos cabelos a fita vermelha, única marca real,
de um sonho desbotado e rasgado.

Nas mãos o medo do tato,
já havia sofrido, já havia lutado.

Branca de Neve a chamaram,
Branca de neve respondeu,
sorriu por ser vista menina,
em uma pequena bola de cristal.

Ofereceram-lhe maçã,
invisível e dolorosa,
mordeu um pedaço tão grande,
que caiu de repente, morta.

domingo, 5 de outubro de 2008

Na janela do carro, pingos d'água


Se na chuva não vejo,
o que o sol não mostra,
é que tem barullho de mar,
na sombra da estrada.

Se no corpo a alma não mostra a cara,
é que tem barulho de brilho,
nas pálpebras risonhas da estrada.

Meus seios cheios de mar e brilho,
mulher chuva na estrada,
não há pó, nem nada.

Apenas pingos tímidos de beijos, leite e lágrimas.

sábado, 4 de outubro de 2008

bailarina azul


Dia de chuva que não chove, fica escuro, dá sono, mas não chove. Minha filha brinca em casa, falta sol para correr lá fora. Ela precisava de um papel azul, para desenhar uma bailarina de saia transparente com giz branco, como viu na televisão. Eu ando pela casa meio fantasma, assustada de não ter que trabalhar, aprendemos, desde meninas eu e minhas irmãs, que devíamos sempre trabalhar, e isso se tornou um trauma, meus sábados acabam sendo dolorosos, vazios e de ansiedade.
Sofia, desenha no chão, lápis espalhados, canetas coloridas, já fez tatuagens em meus braços, minhas pernas, com olhar de tatuadora experiente. Qual será o seu futuro? desculpe, a ansiedade perturbadora, deixo ser criança a Sofia e o desenho apenas brincadeira. Bem, mas falta o papel azul e ela não esquece. Calada continua seu trabalho ensolarado, já que lá fora está cinza, vai amarelando dentro, com sol e nuvens rosas, o coração vermelho e as flechas... hoje me perguntou o que era arco. Não sei se gostou da resposta, mas continuou pensando em círculos, deixou para lá o arco-íris, o arquinho prateado, o Arco do Triunfo e foi desenhando círculos, acho que precisa fechar o arco, hoje, essa Sofia.
Deixaremos de lado o círculo e buscaremos um papel azul, mas eu me esqueci, tão desimportante para mim o projeto, mas para ela a idéia insistia toda anil. Então no final da tarde tirou uma folha do caderno e com um lápis decidido pintou-a inteirinha de azul, no centro uma bailarina nascia e girava, de saia transparente giz. Uma bailarina azul que me dizia em cada volta - você desiste fácil - e Sofia sem compreender o que isso me significava, continuava tranquila, desenhando sonhos para que eu me compreendesse.